Batucadas Brasileiras Escola de Percussao - tradicao, reacao, comportamento e palavra

Batucadas Brasileiras Escola de Percussão - tradição, reação, comportamento e palavra.

 

Uma das maiores tradições do cancioneiro popular do Brasil é a palavra, ou seja, a poesia (as letras das músicas).

Como nas plantações de algodão nos Estados Unidos, os negros cativos brasileiros, escravizados pela cana-de-açúcar, fizeram da sua triste realidade o lamento, um canto infinito, um grito de dignidade e humanidade e de extensão da sua cultura própria e original.

No Brasil, a palavra na música popular, adquiriu a forma de uma instrumentalização de liberdade e de comportamento da maior importância.  O Samba não pode ser considerado somente um estilo musical. Samba é ritmo. Mas Samba também é palavra, poesia, comportamento, ética e um modo de ser e viver, principalmente, ser Sambista significa representar a identidade brasileira, significa ocupar o espaço “vazio” da nossa nacionalidade, na sua maior perspectiva, ou seja, a perspectiva de não ser colonizado. Ser Sambista significa ser genuinamente brasileiro.

 

Os grandes intérpretes da nossa música popular perceberam a forma do samba e da palavra no samba e do comportamento que isso significa. E se utilizaram dessa forma para erigir, inclusive, as suas próprias carreiras, é claro. A começar por Carmem Miranda que gravou todos os grandes compositores da época da formação da Música Popular Brasileira, incorporando toda uma estética e um comportamento que as letras inspiravam. Assis Valente, Dorival Caymmi, Lamartine Babo, Almirante, Ary Barroso e outros.

Em seguida, as principais vozes do momento áureo do rádio foram pelo mesmo caminho.
Orlando Silva gravou Claudionor Cruz e Pedro Caetano, João de Barro, Assis Valente, Benedito Lacerda e Humberto Porto, Alindo Marques e Roberto Roberti, Ataulfo Alves e vários.

Luiz Gonzaga notabilizou, na rádio Nacional, com suas músicas letradas por Humberto Teixeira, Zé Dantas, Hervê cordovil, José Marcolino e outros grandes, a realidade do sertão brasileiro, imprimindo o comportamento nordestino, juntamente com Jackson do Pandeiro, inclusive, a partir das primeiras transmissões da nossa televisão.

Maria Bethânia, depois de substituir Nara Leão no famoso show Opinião no Rio, espetáculo que foi decisivo para  a construção da sua carreira, ao interpretar João do Vale, recusou as propostas das gravadoras na oportunidade e impôs aos padrões da época várias músicas versadas pelo irmão Caetano e pelo grande mestre Gilberto Gil.

Elis Regina se notabilizou através das interpretações das letras de Chico Buarque de Hollanda, Edu Lobo, Fernando Brant e Milton Nascimento, Geraldo Vandré, Cartola, Paulo César Pinheiro, João Bosco e Aldir Blanc, e vários outros monstros sagrados do cancioneiro brasileiro.

Gal Costa gravou Caetano, Gil ,Chico Buarque, Vicente Paiva, Abel Silva, Gonzaguinha, Caymmi, Fausto Nilo e vários outros.

E por aí vai.

 

Separar letra e música da tradição da cultura  popular brasileira é praticamente impossível.

Nos Festivais da Canção, todos vieram carregados de versos sobre a realidade brasileira e incorporaram essa realidade num momento de grandes contradições políticas e filosóficas no período pré-ditadura. A MPB respondeu à ditadura militar através do seu comportamento de resistência exposto em poesia cantada.

Até mesmo a fase alternativa da cultura brasileira, com a formação de um comportamento de resistência aos padrões implantados pela ditadura, tornou notável o poeta Luiz Galvão com suas letras musicadas por Moraes Moreira e interpretadas pelos Novos Baianos, eternizando a década de 70 para as novas gerações.

Muitos antes, João Gilberto já havia recodificado todo o cancioneiro popular com as suas novíssimas versões e a batida inigualável do seu violão, bossa e voz, gravando Caymmi, Lamartine, Ary Barroso, Vinícius…

 

A idéia de unir Moacyr Luz e Galvão para juntos comporem um repertório inédito para o projeto Batucadas Brasileiras foi muito feliz da minha parte. Estou muito feliz em ter promovido esse encontro. Os craques se conheceram num almoço ali na Taberna da Glória, perto da casa de Moacyr. E foram logo se entendendo. Logo logo, fizeram quinze músicas em vinte dias. O Galvão se comprometeu ainda em escrever mais algumas letras para que o Jorginho Gomes e o Sérgio Chiavazzoli coloquem música, além de fazer outras sobre os “grovies” do mestre Armando Marçal. Golaço!

 

Quando cheguei agora de Chapada do Norte – para quem não conhece a Chapada do Norte, é um dos municípios mais pobres do estado de Minas Gerais, e fica localizado no médio Jequitinhonha. Em verdade, Chapada é um grande quilombo remanescente da escravidão e é este o meu interesse pela região. O IBB aprovou junto ao MinC, três projetos culturais para a juventude local – enfim, quando retornei da Chapada, encontrei o projeto Batucadas Brasileiras feliz, tendo a participação saudável e harmoniosa dos novos alunos e incorporadas todas as nossas novas informações. Todo mundo sorrindo abertamente.

Jorginho, Serginho, Marçal, Ary, Aleh e o mestre Odilon curtindo o verdadeiro sentido da idéia primordial e conceitual do projeto. Interagindo com o público e a meninada com eles.

 

Equipe Batucadas Brasileiras

 

Toda a ação tem uma reação, como se diz. Fiquemos, então, com a nossa reação, que aí está, e com os agradecimentos especiais ao Jorginho, Serginho, ao Ary e ao Marçal, ao mestre Odilon, Aleh, Moacyr, Galvão e à Petrobrás.



Por Maurício Nolasco – presidente da IBB.

 

Mauricio Nolasco Jorginho Gomes Sergio Chiavazzoli

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Maurício entre Jorginho e Serginho.

 

Batucadas Brasileiras

está consolidada como marca.

Sinônimo de qualidade no ensino da música popular brasileira, ela vem sendo cunhada ao longo dos cinco anos do projeto, como resultados super positivos e números expressivos. Foram mais de 400 alunos que freqüentaram os cursos e dezenas deles, hoje, estão envolvidos com a música.

As 120 vagas oferecidas para esse novo período foram disputadas por mais de 300 jovens e preenchidas rapidamente. Mas sucesso algum se alcança sozinho. A parceria com as Secretarias de Educação e Cultura do Estado e do Município do Rio de Janeiro, tem sido fundamental desde o início do processo. Este ano, a relação entre as secretarias, num eficiente trabalho de distribuição do material informativo às escolas, permitiu que todas as vagas fossem ocupadas ainda durante a campanha de divulgação.

A procura foi democrática. Jovens de todos os bairros do Rio procuraram à sede do projeto para fazer suas inscrições. Veio gente da Gamboa, Providência e Saúde, como também de Paquetá, Niterói e Nova Iguaçu, Leblon, Copacabana, Barra da Tijuca, Jardim Botânico entre outros. A presença maior é de alunos das escolas estaduais, em seguida do município, mas muitos universitários também desejam participar das oficinas de percussão, teoria e percepção musical, além das aulas de cidadania e história das raízes da cultura brasileira.

Tanto interesse ressalta o poder que a música tem de aproximar as pessoas. Opostos e semelhantes. No dia seis de Maio último, quando o aniversário do projeto foi comemorado, a sede da Rua Camerindo ficou pequena para aproximar tantos amigos. Foi a celebração também do início do novo ciclo do projeto que, segundo Maurício Nolasco, seu coordenador e idealizador, cresce em termos peculiares e estéticos, com o novo quadro de professores.

 

 

jorginho gomes - baterista instrumentista diretor musical

 

O baterista e instrumentista Jorginho Gomes e o maestro Sérgio Chiavazzoli são os responsáveis pela direção musical do projeto. Darão aulas de Teoria Musical e Percepção Musical e Melódica, e chegam trazendo rigor no planejamento do conjunto e na prática musical.

 

 

 

 

 

Ary Dias - percussionista e orientador musical

 

O percussionista Ary Dias, além da experiência de mais de 40 anos, tem bagagem didática como professor do Centro Antônio Adolfo e do Centro de Artes do Terreirão. Suas aulas de Ritmos Nordestinos e outros da cultura brasileira são disputados na mão – leia-se na batucada.

 


 

 

 

 

 

 

 

batucadas musicos professores

Armando Marçal, o Marçalzinho (filho do mestre Marçal, baluarte da Portela) já tem impresso no seu DNA a percussão de qualidade. Vai ensinar ritmos de samba, sons cariocas e outros sons.

Finalmente, mestre Odilon, reconhecido como o melhor mestre de bateria do carnaval carioca, mostrará ao alunos os vários ritmos do samba e a peculiaridade de cada instrumento em uma escola de samba.

Em sua apresentação aproveitou para ensinar que o tarol é a identidade de uma escola de samba, e que a batida da caixa não deve mudar. Detentor de inúmeras notas 10 e de Estandarte de Ouro, Mestre Odilon observou que cada escola tem sua afinação e que - não é qualquer um que conhece e pode julgar.

Sérgio Chiavazzoli deu show nas cordas, Jorginho Gomes, arrasou na bateria, Ary e Marçal, um banho de percussão. E mais: os compositores Moacyr Luz e Luiz Galvão, responsáveis pelo repertório inédito do grupo show que será criado, mostraram música e poesia. Ou seja, repetiram o sucesso de suas atuações profissionais. Além deles, o evento contou com a participação do cantor e compositor Aleh Ferreira, o único integrante da antiga formação, que permanece no projeto e será responsável pela interpretação do novo repertório. Tantos talentos reunidos agigantaram o pequeno palco armado no andar térreo da sede do projeto. E ainda teve o luxuoso auxílio de Cláudio Andrade nos teclados e Arthur Maia no contrabaixo.

 

Os novos alunos tiveram uma amostra do potencial dos músicos professores e não viam a hora de começarem o curso de doze meses. Coroando o evento teve Parabéns a Você em ritmo de Samba, pelos cinco anos de trajetória do Batucadas Brasileiras, com direito a bolo, apagar de velas e pedidos de sucesso e longa vida que o projeto certamente terá.

batucadas musicos professores 2

 

Parabéns à todos pela bela iniciativa. Sucesso e longa vida a Cultura Brasileira e nossos Ritmos!

Vamos Batucar!

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