Como fazer um projeto cultural de valor e ter sucesso


Como fazer um grande projeto cultural de sucesso e valores humanitários?

Projeto: Batucadas Brasileiras 






DESCRIÇÃO DO MÓDULO DE FORMAÇÃO


EMENTÁRIO PARA O CURSO - QUARTO ANO

Todas as manifestações culturais são, por definição, complexas e estão vinculadas com práticas sociais que decorrem de experiências cotidianas. A música se apresenta como uma das práticas mais refinadas no que diz respeito à tradução dos sentimentos que envolvem as variadas formas de sociabilidade porque associa a dimensão poética ao ouvir e ao sentir do movimento de relação entre natureza e cultura. Tomada nesta perspectiva, ela não anda sozinha nesse universo de trocas culturais e para entendê-la e assumi-la como prática é necessário que ela se articule ao mundo social. Assim, para estabelecer um movimento entre arte e sociedade precisamos entender a ambas e para isso devemos conhecer a diversidade de interesses e manifestações que se encontram relacionadas na vivência social. Entendemos a música não como uma arte perfeita e absoluta, mas como manifestação da convergência de ritmos e de sons que foram e são produzidos por sujeitos sociais.

Temáticas

As temáticas se ordenam de acordo com a relação entre o particular e o geral. Assim, para compreender o que é ser brasileiro precisamos saber de que lugar falamos e como falamos, quais são os instrumentos que temos. O ponto de partida das nossas reflexões é o lugar mais próximo de nossas vivências e experiências: a cidade do Rio de Janeiro. É em torno de sua história e de suas culturas que organizaremos o nosso percurso em direção ao entendimento do que é o Brasil e de que relações se manifestam como resultado desse conhecimento. A referência decorrente vincula-se ao reconhecimento da liberdade e da cidadania como elementos diretamente ligados às nossas manifestações culturais e sociais e que engendram experiências de vanguarda e renovação que podem fornecer informações para a compreensão do significado histórico e cultural da cidade e da cultura brasileira. Nesse contexto, a música se apresenta como o foco de convergência desses instrumentos de compreensão e suscita a vontade de observar que a diversidade é muito mais generosa que a homogeneidade. Cultura se apresenta então como a reflexão que a sociedade faz sobre ela mesmo de variadas formas diferentes e que se encontram em um lugar comum: a sociedade.
Desse modo, nossas principais temáticas podem ser resumidas assim:
  1. História e cultura na cidade do Rio de Janeiro: o encontro e o desencontro de culturas.
  2. Diversidade cultural e manifestações artísticas: o lugar da arte no processo de compreensão da dinâmica social.
  3. Manifestações culturais e história da cultura: modernidade, moderno e modernismo no processo de formação da idéia de Brasil.
  4. Culturas tradicionais versus culturas emergentes: as tensões sociais e políticas numa sociedade multicultural.
  5. Tradições culturais e culturas de resistência: síntese ou diversidade, e o caso do Rio de Janeiro como exemplo.
  6. Religiosidades e sincretismos culturais: religião e cultura numa sociedade da mestiçagem.
  7. Arte, cultura e cidadania: o Brasil fragmentado e a formação da cultura nacional.
  8. Os modernismos brasileiros e o processo de urbanização: as múltiplas vozes do moderno.
  9. Vozes do morro e vozes da cidade: o Rio de Janeiro como cidade das ruas.
  10. Cultura popular, cultura de elites e culturas da paz.
  11. Modernismo, Tropicalismo, Bossa Nova e Cinema Novo.


    Objetivos da formação

    O projeto BATUCADAS BRASILEIRAS entra, agora, no seu momento mais crítico. Estamos consolidando nossas primeiras experimentações, cujo produto mais importante é o resultado da sociabilidade e reiniciando o trabalho de ensino de uma nova turma. Para poder dar conta desse desafio estamos estabelecendo um conjunto de objetivos que pretende integrar as temáticas com as experiências cotidianas de cidadania e de competência musical. Desse modo, nossos objetivos são:
    1. Mostrar aos alunos do projeto que música não é só intuição e ritmo, mas envolve o conhecimento da realidade que nos cerca, transformando em elemento de inspiração e de trabalho.
    2. Suscitar nos alunos a vontade de entender a música como uma manifestação cultural que envolve a combinação de múltiplas contribuições culturais que devem ser experimentadas sem nenhum tipo de preconceito.
    3. Fazer os alunos compreenderem que todas as formas de manifestação cultural de uma sociedade se apresenta na poética artística, como se a música representasse os modos pelos quais a sociedade exprime as suas tensões que vão da política à religião.
    4. Levar os alunos a compreenderem que qualquer experiência cultural é por definição de resistência e que sua história deve ser constantemente reapresentada como forma de construção de uma memória social.
    5. Possibilitar, aos alunos, condições de entender como a cidade do Rio de Janeiro se desenvolveu e quais foram as contribuições dos vários grupos sociais e culturais com o objetivo de verificar as tradições que ainda hoje estão presentes nas manifestações culturais urbanas e rurais.
    6. Mapear os vários movimentos artísticos brasileiros para que seja possível identificar a combinação de origens e de manifestações diferenciadas nos sons do Brasil e da emergência das vanguardas culturais.
    7. Criar uma cultura de reciprocidades que envolva o aprendizado da cidadania e da solidariedade como instrumentos de realização do brasileiro através do conhecimento de ritmos e de sons capazes de serem reconhecidos como oriundos de trocas culturais.
    8. Desenvolver habilidades musicais que singularizem cada um dos alunos e que mostrem seus dons e conhecimentos, associando a percussão e a música com a reflexão sobre a sua condição de homem e de cidadão.
    9. Construir um espaço de reflexão e de trabalho onde a profissionalização e a capacitação sejam vistas como degraus para a construção de formas de vida capazes de valorizar o humanismo.
    10. Enfatizar a diversidade e a heterogeneidade cultural da cidade e do Brasil.
    11. Estabelecer, entre os alunos, um clima de vivência que intensifique as relações entre o módulo de formação e o módulo profissional e mostre a importância dos dois na profissionalização.

    Conteúdo Programático

    História e cultura da cidade do Rio de Janeiro: o encontro e o desencontro de culturas.

    Diversidade cultural e manifestações artísticas: o lugar da arte no processo de compreensão da dinâmica social.

    Manifestações culturais e história da cultura: modernidade, moderno e modernismo no processo de formação da idéia de Brasil.

    Culturas tradicionais versus culturas emergentes: as tensões sociais e políticas numa sociedade multicultural.

    Tradições culturais e culturas de resistência: síntese ou diversidade, e o caso do Rio de Janeiro como exemplo.

    Religiosidades e sincretismos culturais: religião e cultura numa sociedade da mestiçagem.

    Arte, cultura e cidadania: o Brasil fragmentado e a formação da cultura nacional.

    Os modernismos brasileiros e o processo de urbanização: as múltiplas vozes do moderno.

    Vozes do morro e vozes da cidade: O Rio de Janeiro como cidade das ruas.

    Cultura popular, cultura de elites e culturas da paz.


    INSTITUTO BANDEIRA BRANCA

    Projeto: Batucadas Brasileiras

    PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

    NOSSAS BATUCADAS: CONSTRUINDO CIDADANIA A PARTIR DA ARTE DA PERCUSSÃO, ENTRE OUTRAS HISTÓRIAS


    2010

    I. Introdução

    Como eixo condutor do Projeto Batucadas Brasileiras, o projeto político-pedagógico Nossas batucadas: construindo cidadania a partir da arte da percussão, entre outras histórias, foi elaborado no sentido de cumprir a tarefa primordial de todo o projeto educativo qual seja: formar a partir das relações sociais, aproximando os sujeitos do conhecimento como bem público, criando ambiência de aprendizagem na perspectiva de construir o conhecimento com os diferentes sujeitos deste processo.

    O projeto político-pedagógico Nossas batucadas: construindo cidadania a partir da arte da percussão, entre outras histórias é imprescindível para a formação dos nossos alunos. Através dele retrata-se o conjunto de painéis que orientam a história econômica, social, étnica e cultural da sociedade brasileira, sem a visão dos quais os alunos não entenderão de maneira completa o processo de formação da MPB, ou seja, a história e a identidade da cultura popular brasileira e, conseqüentemente, a história contemporânea do Brasil. Ao estudar os movimentos sociais e culturais que, ao longo da história moderna do nosso país, entre eles se travaram e influenciaram a formação e a identidade da nossa sociedade, este módulo oferece aos alunos os elementos primordiais à compreensão da realidade nacional. É uma tentativa de compreender de uma forma vertical a tendência internacionalizante da indústria de entretenimento em nosso país, a importância da Língua Portuguesa como fator de integração nacional e as transações comerciais e as formas e conteúdos artísticos, sociais e políticos que influenciaram a sociedade brasileira durante todo o século XX e início do século XXI.

    Neste sentido, o trabalho realizado pelo Instituto Bandeira Branca (IBB) é o mote deste projeto político-pedagógico nascido das discussões entre educadores, sociólogos, historiadores, músicos, pesquisadores e parceiros. Tem como tarefa auxiliar o desenvolvimento das habilidades de nossos alunos regularmente matriculados na rede pública de ensino justamente por ser concebido como um projeto de extensão. Entendemos extensão como uma prática social incentivadora da sociabilidade e descobertas de novos espaços e arenas de debate; são situações relacionadas com a formação mais ampla devendo, por isso, auxiliar nossa leitura de mundo. O caminho escolhido para estabelecer está parceria foi a formação do projeto Batucadas Brasileirasnossa proposta número 1 de um total de 15 novas propostas em processo de elaboração.

    Uma segunda proposta de intervenção vem sendo desenvolvida em parceria com o Centro de Democratização da Informática - CDI - muito em função dos interesses em comum que uniram as duas instituições. O motivo de tal aproximação foi o desejo de criar um Banco de Dados que contemple as diferentes demandas de registro e fomento de pesquisa sobre a região portuária e o seu entorno. A questão geográfica tem orientado as primeiras análises sobre o lugar social que alguns grupos ocupam a partir do seu pertencimento racial. Em outros termos, esta área da cidade do Rio de Janeiro agrega um número expressivo de não-brancos, sujeitos, bem como a área que ocupam, esquecidos pela história oficial da cidade. Os dados legitimados como relevantes quando levantamos os registros existentes, dão destaque para os fatos históricos, as demolições, os gestores de então responsáveis pela ampliação ou desaparecimento de um certo monumento. Raramente as figuras humanas estão situadas nestas narrativas pelo seu protagonismo, pela sua história familiar de migração e de resistência. Ao chegarmos até aqui, no que se refere aos objetivos formulados inicialmente para a intervenção do IBB, não é possível desconsiderar este protagonismo. Assim, este Banco de Dados será sobretudo uma das possibilidades de re-inscrição da história dos sujeitos sociais. Enfrentar tal questão significa enfrentar a questão da racialidade, do pertencimento racial dos grupos que habitam a Gamboa, Santo Cristo, Saúde, Pedra do Sal, São Cristóvão, Mangueira, Estácio, Vila Isabel e adjacências. Ampliando as possibilidades criadas pelo Banco de Dados, estamos agregando também as manifestações musicais herdadas por grupos situados em diferentes regiões do Brasil. O ritmo, as melodias e o hibridismo musical brasileiro estão impregnando nosso olhar na colheita de nossas identidades perdidas.

    Pensar a música significa enfrentar as identidades e o nosso desejo de registrar essas manifestações está relacionado ao desejo de rever a NOSSA História de periferia musical.

    Para executarmos nossos pressupostos, nos orientamos por alguns marcos conceituais que apresentaremos logo abaixo. Por tudo isso, nosso intuito, ao sistematizarmos os pressupostos e o eixo orientador de nossa ação, é reparar o escopo para as condições de desenvolvimento dos diferentes módulos que o compõem partindo de uma perspectiva globalizante. Isso significa produzir uma cultura de resgate histórico das nossas diferentes raízes identitárias enfatizando o hibridismo genuinamente brasileiro no qual somos formados. Convém destacar que esta característica está refletida na expressão artística conhecida como Música Popular Brasileira. Assim, nossa forma de estar interagindo em sociedade agrega nosso gosto musical, nosso olhar e nossa expressão corporal.
    Com base na proposta do Instituto Bandeira Branca, de o Batucadas se constituir como uma das mais importantes oficinas de percussão do país, este projeto visa orientar as ações das diferentes modalidades que o compõem. Visa fomentar um trabalho pedagógico no sentido de dar visibilidade bem como fortalecer as identidades culturais convertendo-se em um viés fundamental para uma política de identidade na formação geral e musical.

    Para tanto, deve contar com um recorte que apresente a perspectiva de política de intervenção social que deseja instituir criando as condições do reconhecimento, por parte dos envolvidos, da filosofia de atuação. Passa a ser necessário que se alcance um perfil que caracterize a educação pretendida nesta instituição social que é o Instituto Bandeira Branca.

    II. O Projeto Batucadas
    batucadas musicos professores
     


    O projeto Batucadas será, conforme o explicitado, nossa principal bandeira. Sendo a iniciativa que, de certa forma, inaugura nossa prática de intervenção, as experiências se darão tendo como base uma orientação musical e artística em sentido abrangente e o que depende de uma formação ampla sobre a música e a percussão que perpasse a história da humanidade.

    A orientação pedagógica de um projeto de resgate das coisas perdidas de grupos sociais vitimados pela deficiente transmissão cultural tem como finalidade a formação musical em sentido amplo e deve contemplar uma visão histórica, acima de tudo, sobre o que é a música: uma expressão das artes que conduz a vida.
    Entendemos como público alvo, não apenas os jovens alunos oriundos dos bairros com os quais estamos trabalhando. A equipe IBB entende que a construção de seu perfil depende de uma aproximação com o universo dos sujeitos envolvidos no Batucadas Brasileiras, bem como nos demais projetos do Instituto.



    III. Justificativa

    A interculturalidade é hoje um dos principais apelos para uma cultura de intercâmbio sócio-cultural entre os grupos posicionados de modo desigual no que se refere às condições de acesso aos bens de toda ordem. Sendo assim, um projeto de intervenção que se pretende dialógico deve estar atento aos argumentos sobre as alternativas presentes no campo da educação formal ou não-escolar. A perspectiva intercultural seria um ponto de partida no processo de reconhecimento das nossas identidades enquanto país continental e marcadamente colonizado. Em outras palavras, nosso projeto curricular não está comungando com práticas de alienação no que se refere às explicações formais sobre a formação do Brasil.

    Numa educação intercultural, fica explícita a crença nos saberes locais, nas práticas voltadas para a complexidade de idéias e pressupostos sobre o que somos. Apelar para um perfil de trabalho de resgate de identidades é acreditar nas alternativas de sucesso dos nossos parceiros. Assim, os alunos inseridos no Batucadas, devem ser prioridade e neste caminho estaremos contemplando suas necessidades de diálogo, de interlocução e de busca constante de conhecimento. A musicalidade é, para nossa pretensão de educar, um dos objetos culturais mais poderosos tendo em vista sua capacidade agregadora.

    Como uma instituição comprometida com o resgate da (s) cultura (s) do Brasil, bem como com a formação humana a partir deste viés, o trabalho de intervenção que aqui propomos está sendo fortalecido com uma formação interna de sua equipe pautado na construção de ações efetivas de formação geral e musical acompanhadas de práticas discursivas que, acreditamos poder interferir positivamente no processo de resgate das identidades culturais e conseqüentemente da auto-estima dos sujeitos envolvidos.
    Os objetivos do projeto educativo é justamente promover o intercâmbio entre a equipe e entre os pesquisadores envolvidos com uma educação para a diversidade, avaliar os principais conceitos de sociedade multicultural, diversidade, pluralidade, intercultura e formação de identidades híbridas, reconhecer as potencialidades dos jovens na história das mudanças sociais e avaliar os caminhos de superação de suas perdas bem como da sua perspectiva de vida. Tudo isso será o mote para produzirmos uma agenda conjunta de sonhos e desejos no processo de resgate de nossas identidades.

    Um projeto musical organizado com base numa educação cidadã é, por definição, composto por uma equipe de intelectuais, artistas e agentes comunitários com vínculos sólidos que refletem sua responsabilidade social. Uma equipe de formadores com ideologia definida na solidariedade e na justiça social está, por isso, desafiada a criar uma atmosfera dialógica e de intercâmbio. Visamos o compromisso de construir, juntamente com os estudantes das escolas do entorno da Gamboa, Saúde, Santo Cristo e adjacências, as condições de re-significação do conhecimento, sobretudo os saberes organizados tendo como sede o não-lugar e os espaços não disciplinares, como é o caso das artes. Nosso objetivo maior é privilegiar a filosofia de educação dos estudantes contemplados no Batucadas, dando ênfase ao intercâmbio cultural na perspectiva de desestabilizar as idéias pré-concebidas sobre uma cultura vulgar.

    IV. Filosofia de trabalho

    Nossa filosofia de trabalho de formação implica realizar um mergulho na História da formação da sociedade no Brasil destacando aportes relacionados com as heranças etnocêntricas e com as narrativas e manifestações musicais populares. Podemos considerar que essas histórias estão definidas no reconhecimento do que somos, tendo como herança, os saberes privilegiados desde a nossa ancestralidade musical.

    A história da (s) identidade(s) do povo brasileiro, sua música e suas representações sociais sobre o que é ser alta cultura, deve ser ampliada tendo em vista os mecanismos de folclorização de suas manifestações. Por isso, a história da música, o ensino da música como espaço não-disciplinar é o ponto alto deste trabalho. A percussão ainda é vista como uma expressão musical menor. Ocupa por isso, um outro lugar, localizada na cozinha do palco, produzida por aqueles localizados no porão da sociedade brasileira.
    Acreditamos que somos transformados na interculturalidade e estas ações, promotoras de novos sentidos, terão como parte de suas tarefas, DESEQUILIBRAR as relações dos sujeitos envolvidos no fazer pedagógico. Transformando o Instituto Bandeira Branca, numa instituição que parte de experiências localizadas, os músicos e aprendizes, o Projeto Batucadas Brasileiras quer vivenciar os pressupostos de uma educação cidadã e multifacetada.

    A cultura da solidariedade não é algo fácil de ser promovido. Para que isso se institua, é preciso apreender a voz do Outro. Isso porque os sons dos distintos instrumentos que movem a vida estão abafados pela intolerância e pelo individualismo. Como uma saída para nossos dilemas de sociabilidade, poderemos desestabilizar tais visões sensibilizando nossos pares e a nós mesmos. Experiência de sensibilização sugere olharmos de onde viemos, o que somos e para onde queremos ir. Promover uma educação cidadã, então, se constitui numa tarefa que se realizará no coletivo, em espaços de troca de experiência e saberes diversos no sentido de instituirmos uma educação que se alimenta na interculturalidade.

    Fomentar uma lógica de solidariedade entre os grupos envolvidos como os alunos, os artistas e os interessados na música e na percussão dependerá das posturas cotidianas que teremos diante de nossas práticas discursivas. Devemos, portanto, dar ênfase ao multiculturalismo que caracteriza a sociedade brasileira e reconhecer nossas múltiplas histórias e múltiplos olhares sobre o mundo da vida, das nossas identidades e do nosso hibridismo. Assim, analisaremos aspectos que nos fazem desiguais como é o caso dos modos de diferenciação que afetam inclusive a música. Por último, queremos problematizar as representações clássicas sobre os nossos ritmos e sobre nossas produções como grupos sociais. Somos todos músicos, somos todos dependentes do sopro do outro, da musicalidade vizinha. Somos ritmos, voz e instrumentos. Por isso, somos partes de uma Orquestra de Percussão.

    4.1. O Batucadas como um projeto de extensão

    Alguns estudos sobre a mobilidade de educação entre gerações na América Latina concluem que o grau dessa mobilidade é bem menor em países desta região quando comparados aos países chamados desenvolvidos. A pesquisa de Behrman et al. (2001) demonstra que essa mobilidade educacional vem aumentando para coortes mais jovens no Brasil e em outros países da mesma região. Esta comparação da transmissão de educação entre gerações no Nordeste e no Sudeste mostra que a grande diferença entre as duas regiões está na mobilidade observada no grupo de filhos de pais sem escolaridade. No Nordeste, a probabilidade do filho de um pai sem escolaridade permanecer na mesma categoria de educação do pai é de 54%, enquanto no Sudeste esta probabilidade é de apenas 21%.

    Tratando-se de uma metrópole vitrine, o caso do Rio de Janeiro deveria ser melhor situado. Em um país continental como é o Brasil, chama a atenção o fato de nossa cidade ser um ícone para o mundo no que se refere à identidade brasileira. Não é por acaso que a nossa defesa por uma educação popular de qualidade, quando transformada em ações, insista na garantia do acesso aos diferentes saberes sociais. Essa não é uma discussão bem desenvolvida quando se problematiza a divisão curricular. Para sermos mais precisos, na gramática social, é de bom tom conhecer pintores, estilos e movimentos artísticos, conhecer boa música, falar outras línguas para além da língua materna, entre outras boas maneiras definidoras das relações em sociedade. Tem sido este o aspecto mais crítico, ao que nos parece, quando desejamos encontrar o sentido da educação formal. A música, a sua história, a função social que apenas ela pode cumprir fazem parte destes saberes.


    4.2. O lugar social da música
    V. O lugar social da música é um dos aspectos mais caros para este trabalho de intervenção social. Um projeto de intervenção existe por conta da ineficácia das políticas sociais. Tem o papel de resgatar sonhos perdidos e, neste caso, o projeto Batucadas Brasileiras quer fazer parte de uma filosofia educacional que re-inscreva objetos culturais perdidos na organização curricular. Depende de um resgate do valor disciplinar que a Música Popular Brasileira possui.

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