A musica universal

Segundo Schopenhauer

a música tem uma atuação diferenciada das outras artes. Ele diz que todas as artes precisam atuar através da representação, precisam se formar sendo imagens da vontade. A música não. O tom já é a expressão da própria vontade.

Se ouvimos o tom, ouvimos a vontade da natureza, percebemos o ser do cosmos que se encontra na natureza e dentro de cada um. A música atinge diretamente a alma, a nossa vontade, não há filtro. A luz e os conceitos passam pelo filtro da razão, o som não, ele nos penetra, preenche totalmente e sobe também das próprias profundezas.

O som está diretamente ligado a nossa essência e a essência do mundo.

Rudolf Steiner

coloca que o som é a alma das coisas mesmas, que estremece e nos fala em forma sonora. Em todas as coisas, nos metais, na madeira, nas minerais, nas plantas, em tudo que existe no mundo vive algo de música que se calou.

“Uma lembrança que o mundo foi feito da palavra e do som”.

– Karl von Baltz “Rudolf Steiners musikalische Impulse”

Rudolf Steiner parte da premissa que, como diz o prólogo do evangelho segundo João:

“No princípio era o verbo…”

Tudo no mundo físico tem como essência um Tom espiritual, o próprio homem nas profundezas do seu ser é um Tom. Esta premissa encontra-se nos mitos, epopeias e gênesis de muitos povos.

A criação do mundo segundo a tradição oral Guarani termina assim:

” …e sons andantes cantarão vida, cada qual em seu tom.” Eles falam da “linhagem-linguagem-humana”.

Paracelsus

expressa isto da seguinte forma:

“Os reinos da natureza são as letras e o ser humano é a palavra…”

Portanto podemos dizer que, através do tom, da música, o ser humano pode se conectar, ou se religar com a sua própria essência. Existe uma história que eu gostaria contar em relação a isto:

“A Canção do Homem”

Quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, segue para a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que aparece a “canção da criança”.

Quando nasce a criança, a comunidade se junta e lhe cantam a sua canção.

Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e lhe cantam a sua canção.
Quando se torna adulto, a gente se junta novamente e canta. Quando chega o momento do seu casamento a pessoa escuta a sua canção. Finalmente, quando a sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam- se e, igual como em seu nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo na ‘viagem’.

Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção.

Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, o levam até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor. Então lhe cantam a sua canção.

A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade.

Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos nem necessidade de prejudicar ninguém.

Teus amigos conhecem a ‘tua canção’ e a cantam quando a esqueces. Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos erros que cometes, ou as escuras imagens que mostras aos demais. Eles recordam tua beleza quando te sentes feio, tua totalidade quando estás quebrado, tua inocência quando te sentes culpado e teu propósito quando estás confuso.

Esta simples e bonita história retrata bem como podemos nos lembrar do nosso propósito através da música, ela pode nos lembrar porque razão estamos na Terra, qual é a nossa verdadeira intenção. Quantas vezes a música certa na hora certa nos ajudou a voltar no nosso caminho? Muitos devem ter tido esta vivência, e muitos já devem ter sentido o quanto isso toca no mais íntimo da nossa alma.

Isto é possível, por que, segundo Rudolf Steiner, a música tem a sua origem no mesmo lugar que o ser humano tem a sua pátria. A verdadeira música é espiritual, ela abrange tudo, desde a criação do mundo até o futuro desenvolvimento da Terra, e a música terrena é somente uma imagem, uma sombra desta verdadeira música que preenche o mundo espiritual.

Sempre quando o homem vive no elemento musical ele se lembra da sua verdadeira pátria, se percebe como um ser espiritual, ele percebe que existe na Terra.

 

No âmbito do som, da música, somos todos iguais, somos todos irmãos, somos todos seres espirituais em desenvolvimento.

A música une, supera fronteiras e diferenças, ajuda-nos a superar a nos mesmos, a música é a relação do homem como um ser anímico-espiritual consigo mesmo. O meu Eu, que é mera aparência se conecta ao verdadeiro ser e fala com ele. Podemos nos lembrar que o outro sou Eu também, mas que aqui na Terra cada um mergulhou em um ponto, cada um “em seu Tom”.

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