Ebola no país do futebol - Informação traz cultura ou a cultura que desinforma?

Ebola no país do futebol


Fico irritado quando vejo matérias naturalizando a África como fim do mundo. Como se fosse normal tudo de ruim que acontece no mundo, ou aconteceu, naquele continente fosse culpa da 'raça' africana. Como se o homem em seu projeto de civilização não tivesse nada haver com isso. E nem se um dia ele - raça humana - fosse responsável pela sua própria extinção, ainda assim arrumaríamos os culpados. Aqui no Brasil o caso alarmante do momento é o vírus Ebola. E isso num país 'novo' onde a cultura ou a identidade nacional é forçada goela abaixo pela mídia, como sendo resumida dentro de um campo de futebol. Não à toa essa é a medida não oficial usadas pelos jornais para porções de terra no território nacional.





Acontece que o tratamento dado ao caso da epidemia do vírus no país é carregada de preconceito e racismo, que só vingam por causa dessa confusão a cerca da formação histórica colonial num país multicultural, que deveria ser a característica principal do Brasil. Só que ele apenas ocorre no plano ideal do mundo publicitário, sempre cercado de subliminares mensagens de hierarquias raciais. Muitas vezes explicitamente. E qual mal tem isso?

 As distorções a partir desse fatos alarmantes, para não dizer sensacionais, é que existem muitas outras endemias em curso no país há décadas que não são tratadas ou são amenizadas, como é o caso da dengue. Outras até são fixamente constituídas como características ecológicas em regiões de abundancia em ecossistemas tropicais, devido a disposição climática para reprodução de hospedeiros conhecidos e mapeados pelas agencias internacionais de saúde. Mas o que incorre no pais é fruto de pura ignorância ou manipulações descaradas da informação, que forçam o país em seu eterno atraso, não em relação ao primeiro mundo mas em relação ao seu próprio tempo histórico. E a maior epidemia de todas é o afastamento de suas raízes de formação ancestrais.

Informação traz cultura ou a cultura que desinforma?



As consequências são as manifestações em rede num mundo conectado onde fica evidente tamanha confusão diante das informações que despertam e adubam as infelizes declarações dos brasileiros. Do meu ponto de vista, fica muito claro o que significa uma mente colonizada quando vejo essa nação patriota de coração e de chuteiras nos pés, declarar certa infelicidade por ter sido colonizado por portugueses e não por outra nação, digamos, com maior prestígio europeu. Isso é de uma estupidez sem tamanho e de um atraso irreversível, tão grande quanto os casos em que eu já vi na educação escolar, quando um aluno é obrigado a decorar os estados americanos como prioridade aos tupiniquins; ou quando vejo por aí em festas infantis onde os temas nem de perto celebram os mitos, os desenhos ou qualquer outro elemento simbólico nacional, mas proliferam os códigos de uma indústria massificadora de ícones feitos para o consumo. Existem ainda outros casos mais dramáticos em que a bandeira representada no bolo ou na parede não é a nossa, nem de algum país de heranças passadas, mas é a daquele país que domina a cultura global, ou que detêm reconhecida "proficiência" superior em um aspecto cultural como a música, ou algum esporte e até mesmo uma ligação sentimental, veja, graças ao poderoso sistema de distribuição de influência imperial que hoje é a indústria do entretenimento audiovisual.

E eu não me refiro a liberdade de escolha a que cada um tem o direito de evocar as coisas que mais lhe apetecem. Muito pelo contrário. Me refiro a falta de referências nacionais para serem celebradas em ocasiões especiais, para além das datas festivas. Posso citar apenas meu exemplo a fim de facilitar as lembranças que cada um de nós tem, ou guardou durante seus primeiros estudos no colegial. Aonde foram parar os elementos mitológicos do nosso sítio do pica-pau amarelo? Os contos dos índios brasileiros, em que canais e horários podemos ver e ouvir suas histórias? Quais são os desenhos animados que crescemos e acompanhamos desde então e revemos com certa noção saudosista?
Adotamos algum traje festivo típico ou alteramos nossos hábitos alimentares quantas vezes por ano, para celebrarmos os ícones de nossas tradições populares ou ancestrais? Quais são e aonde estão estes espaços de convívio social, e no calendário oficial ou na grade de programação da TV aberta brasileira, onde ficam as tradições na divisão do seu tempo durante o dia a dia comum?

Resta à nós sabermos que todos os descendentes negros vieram da África, como se ela fosse um grande e único país. Resta para nós olhar para este continente sem saber quais são seus países ou pelo menos identificar quais estão tão intrinsecamente ligados aos nossos aspectos culturais. Resta a pátria Brasil a vergonha de ter recebido tantas pessoas de qualidade inferiores, as quais foram dispensadas as mazelas de um mundo dividido, desapropriado e sem condições higiênicas. A nação sem pátria, sem perspectiva e sem identidade própria.
O safári no exotismo da humanidade serve apenas como parque de diversões e recursos minerais para poucos mas luxuosos desejos etnocêntricos.


O Brasil é o país do futuro. E o futuro já chegou faz tempo.


Então, para não terminar tão catastroficamente (será?), fica uma mensagem de esperança, que por ironia de momento, vem de um estrangeiro que se debruçou sobre o brasileiro - e outros - para entender o que se passa nesse momento no estilo de vida das pessoas ao redor do mundo. Penso em compartilhar alguns trechos de livro em breve aqui mesmo. Se o autor me permitir (ou não).

Segundo o autor, o futuro da humanidade é ir buscando cada vez mais a qualidade de vida. Ela em si deve gerar muitas reflexões sobre o que isso significa. Para muitos - eu incluso - qualidade de vida não significa uma cidade cercada de segurança com capangas fornecidos pelo Estado.

Numa dica do que pode vir a ser qualidade de vida, diz o livro, buscaremos no convívio e na amizade, no lazer e na meditação, na contemplação da natureza e na priorização do amor, as chaves para a continuação da existência em busca da evolução humana. Será que hoje estamos no caminho certo?

Coisas como estas eu facilmente identifico justamente em outros modelos de vida que bem antes do contato e da "interferência" das  nações que formaram esse país. Seria irônico se não fosse trágico perceber que o mundo dá pequenos sinais de que tomou o rumo errado. Melhor dizendo, negligenciamos os conhecimentos dos que já estavam aqui bem antes das nossas raízes externas, e agora talvez seja a hora de rever toda essa história.

Leia mais sobre a febre do Ebola aqui:

https://www.facebook.com/Libertesedosistema/photos/a.269820713114200.59106.149036068525999/708070329289234/?type=1








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